Frente a pandemia crescente de coronavírus e aos graves riscos que ele oferece à nossa saúde, nós entendemos o desespero por parte de muitas pessoas. Contudo, sair fazendo qualquer coisa que se vê pela frente, definitivamente, não é a melhor opção, pois se a informação não for correta, o perigo de contaminação pode ser ainda maior!
Sabemos que a intenção de muitas pessoas é poder ajudar de alguma maneira, mas mesmo a ajuda deve passar pelo crivo da razão e ser realizada com critério, seriedade e estudo. Portanto, antes de sair fazendo alguma coisa, por favor, pesquise se funciona, se é real ou peça ajuda a quem entende, como órgãos oficiais ou profissionais especializados da área.
OS VÍDEOS SOBRE SABÃO E ÁGUA
Existem alguns vídeos circulando pelo whatsapp e facebook, mostrando mães com seus filhos, colocando o dedo num prato com detergente (ou água e sabão) e em seguida em um outro prato com água e partículas em suspensão, o que parecem ser ervas desidratadas ou lasquinhas de madeira.
Embora isso possa ser um exemplo lúdico para estimular as crianças a lavarem as mãos, o vídeo também pode dar a entender ideias erradas sobre como o sabonete de fato atua na pele.
Quando a criança coloca o dedo com detergente no prato com a água e as partículas em suspensão, ocorre um aparente efeito de repulsão da sujeira, dando a entender que uma vez que você passou sabonete nas mãos, os micróbios não vão mais se aproximar da sua pele, pois o sabonete os repele. Isso não é verdade, não é assim que funciona!
Esse efeito de repulsão, na verdade, é decorrente de uma simples interação química entre o detergente e a água. As moléculas de sabão, conhecidas como surfactantes ou tensoativos, quando em contato com a água, em um efeito cadeia, vão rompendo a tensão superficial do líquido ao seu redor. Elas enfraquecem as forças de coesão entre as moléculas de água, que se afastam para as laterais. As partes de água mais afastadas do contato com o detergente, ainda conseguem manter um pouco dessa tensão superficial e assim segurar as levíssimas partículas sobre si, sem afundar uma parte. Mágica? Não, isso é pura química!
Na lavagem das mãos, como já explicamos em nosso artigo anterior sobre a higienização ideal em tempos de coronavírus (água e sabão ou álcool em gel?), o mecanismo de ação é totalmente diferente. Nele, uma parte da molécula de sabão gruda na sujeira/gordura/vírus e outra se mistura a água, levando a sujeira embora com o enxágue.
Depois disso, estamos novamente expostos a qualquer coisa que entre em contato conosco. Portanto, se você tocou novamente em qualquer superfície, seja no botão do elevador, maçanetas, corrimões, etc, você precisa lavar as mãos novamente, pois pode ter havido a contaminação mais uma vez.
SABONETE NÃO CRIA UM ESCUDO PROTETOR QUE REPELE OS MICRÓBIOS DE SE APROXIMAREM PELE! LAVE AS MÃOS VÁRIAS VEZES AO DIA, NÃO SE CANSE!
AS RECEITAS CASEIRAS DE ÁLCOOL EM GEL
Por causa da escassez do álcool em gel para higienização das mãos, decorrente da pandemia do Covid-19, temos visto algumas pessoas ensinando receitas caseiras com gel de cabelo ou gelatina incolor, na tentativa de suprir essa necessidade. Mas já avisamos: não funcionam!
O que acontece, principalmente, é que, em geral, o álcool que as pessoas têm comprado é o de 46%, concentração que não é efetiva na proteção contra vírus e bactérias, pois é muito baixa. Contudo, essa é a única* opção disponível nos supermercados, já que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) não autoriza a comercialização, para o público final, de álcool líquido em concentração superior a essa, por medida de segurança, já que são inflamáveis e podem causar graves acidentes.
*Aqui vale uma observação: em medida extraordinária, devido a pandemia do novo coronavírus, a ANVISA liberou, temporariamente, a comercialização do álcool 70% na forma líquida. Sua eficácia é exatamente a mesma da forma em gel, porém devido a alta viscosidade e dificuldade de espalhabilidade, o último é mais seguro, já que a concentração de 70% é bastante inflamável. Portanto, TOME MUITO CUIDADO!
Com isso vamos analisar: se pegamos um álcool de concentração já baixa e misturamos mais um tanto de outras coisas, automaticamente causamos uma diluição ainda maior da quantidade de álcool presente nesta nova meio, tornando a mistura toda ainda mais fraca e ineficiente. Soma-se a isso, o fato de esses géis de cabelo e gelatinas, virem carregados com outras substâncias e aditivos que podem interferir e reduzir ainda mais o poder desinfetante do álcool.
Ou seja, já deu para perceber que confiar nessas receitas é uma cilada! Você vai achar que está protegido, quando na realidade não está, e assim, poderá contribuir ainda mais com a transmissão do vírus, contaminando muitas pessoas ao seu redor, ou se contaminando. NÃO FAÇA ISSO!
Na falta do álcool em gel, lave as mãos. Aliás, esse método acessível é ainda mais eficaz na luta contra o coronavírus.
Compartilhe informações com consciência. Consulte sempre uma fonte confiável antes.
REFERÊNCIAS:
Comentários