Fragrâncias Sintéticas - As novas vilãs dos cosméticos | Será que as naturais são melhores?

Fragrâncias Sintéticas - As novas vilãs dos cosméticos | Será que as naturais são melhores?

Mais um ingrediente na mira da lista "proibida" dos cosméticos naturais. A patrulha da toxicidade continua forte, e assim deve ser em nome de nossa segurança, mas será que é motivo para tanto medo? Em pleno século XXI, com avanços tecnológicos incríveis, será que voltar completamente ao passado, quando os cosméticos eram produzidos de modo mais rústico e com poucos recursos, é a melhor saída? Será que tudo o que é 100% natural é sempre mais seguro?

Você leitor já parou para pensar o quanto, em sua vida, está em contato com algum tipo de fragrância? Não? Então vamos lá, começando pela manhã, ao despertar: 

  1. Ainda deitado na sua cama quentinha e cheirosinha, seu pijama, seus lençóis e cobertores foram lavados com sabões e amaciantes que contém fragrâncias, assim como todas as suas roupas.

  2. Durante aquele banho gostoso para despertar, você vai utilizar shampoo, condicionador e sabonete, todos perfumados.

  3. Em seguida, após seu café da manhã, de volta ao seu banheiro, você vai escovar os dentes com pasta de dentes, fio-dental e enxaguantes bucais que também contém aromatizantes.

  4. Vai arrumar os seus cabelos com gel, pomadas e fixadores, colocar em sua pele cremes, protetor solar, óleos e maquiagens, que da mesma forma possuem fragrâncias.

  5. Além, é claro, de arrematar a arrumação com aquele perfume especial para ficar o dia todo cheiroso e se tornar uma presença agradável em qualquer ambiente ou uma companhia desejada por qualquer pessoa.

  6. Depois, ao longo do seu dia, você vai lavar as mãos inúmeras vezes com mais sabonete perfumado.

  7. Durante as suas refeições, você vai consumir alimentos deliciosamente aromatizados, sejam doces ou salgados.

  8. Ao fazer uma limpeza em sua casa, lavar a louça, higienizar seu carro, moto ou bicicleta vai utilizar produtos perfumados para remover odores desagradáveis.

Enfim, já deu para você perceber que é praticamente impossível fugir das tão temidas fragrâncias, não é? Ela está presente em todos os cantos e você sabe a razão?

É simples: porque nós consumidores gostamos bastante, cheiros agradáveis nos dão sensação de prazer. As empresas não fabricariam produtos perfumados se não vendesse mais e não fosse um atributo extremamente desejado e valorizado pela esmagadora maioria da população. E isso não é errado! É um costume já muito antigo, todos sabemos que desde de que o mundo é mundo, há milhares de anos e em civilizações ancestrais, as pessoas já se preocupavam com seu próprio cheiro e os cheiros ao seu redor.

Sendo assim, é claro que é muito importante estarmos preocupados com o quão perigoso para a nossa saúde é esse ingrediente. Então, vamos começar a entender melhor.

EM PRIMEIRO LUGAR: QUAL É A DEFINIÇÃO DE FRAGRÂNCIA

De acordo com a IFRA (The International Fragrance Association) – organização internacional que representa os interesses coletivos da indústria e dos consumidores, e promove o uso seguro das fragrâncias ao redor do mundo – “uma fragrância é um composto químico que possui cheiro ou odor. Esses compostos podem incluir materiais sintéticos e matérias-primas aromáticas naturais de plantas, obtidas através de destilação, expressão e extração.” Ponto. Isso é fragrância.

COMO O NOSSO CORPO INTERAGE COM AS FRAGRÂNCIAS 

Uma moça cheirando uma flor. Será que fragrâncias naturais são mais seguras?

 

Agora que você já sabe qual é a definição oficial de fragrância, vamos entender como ela interage com nosso corpo.

Perfume é algo gostoso de se sentir, nos traz bem-estar.

Nosso corpo é dotado de receptores bastante sensíveis localizados no fundo de nossa boca, subindo em direção ao nariz. Lá, essas células conhecidas como receptores olfativos interagem com as moléculas químicas das fragrâncias e transmitem essa informação diretamente ao sistema límbico em nosso cérebro, o mesmo lugar onde são guardadas e processadas as emoções. Por isso que quando você sente determinado cheiro, é como se você fosse transportado no tempo e revivesse claramente sensações e emoções ligados a uma determinada memória. Nenhum outro sentido é capaz de provocar essa mesma sensação.

Além disso, estudos já têm comprovado que os cheiros desempenham papel importante no efeito fisiológico de nossas emoções, nosso humor, stress e capacidade produtiva de trabalho, seja através da aromaterapia, ciência ancestral do bem-estar que utiliza óleos essenciais naturais, ou mesmo fragrâncias sintéticas mais sofisticadas. Quem não se sente outra pessoa usando aquele perfume gostoso? Você se sente mais seguro, mais bonito, mais alegre, mais relaxado, animado, etc, são inúmeras as sensações. Isto porque muitas moléculas que são aspiradas por nós, são capazes de atravessar a barreira hematoencefálica (sangue-cérebro) e interagem quimicamente com nosso sistema nervoso central, influenciando nossos sentidos, promovendo alterações imediatas em parâmetros fisiológicos como pressão sanguínea, tensão muscular, dilatação das pupilas, temperatura da pele e atividade cerebral.

OS COMPONENTES DE UMA FRAGRÂNCIA

Já descobrimos como as fragrâncias interagem com nosso corpo, então vamos agora saber um pouco mais sobre seus constituintes.

Os componentes de uma fragrância possuem certas particularidades químicas para que possam promover tais atividades fisiológicas e sensoriais em nosso corpo e podem variar desde simples compostos até misturas complexas. São, em geral, ingredientes voláteis orgânicos de tamanho molecular bem pequeno, em torno de 200 a 300 daltons, por isso sua facilidade em permear os tecidos de nosso corpo.

NATURAIS

 

Vidro de óleo essencial com ramo de lavanda ao lado. Fragrâncias sintéticas são perigosas?Um óleo essencial é composto por, em média, mais de uma centena de tipos diferentes de substâncias (bem mais do que muitas fragrâncias sintéticas!) nas mais variadas concentrações e nem sempre conhecidas, entretanto, duas classes de compostos químicos se fazem presente em concentrações mais significativas, são elas os terpenos e os compostos aromáticos. São os terpenos os responsáveis, na maior parte das vezes, pela atividade biológica e terapêutica em nosso corpo, mas por outro lado, são também os que mais apresentam potencial alergênico e sensibilizante.
Muitas dessas substâncias alergênicas já são velhas conhecidas nossas, já que estão presentes na maioria dos rótulos dos produtos cosméticos que utilizamos, uma vez que a legislação da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estabelece como obrigatória a descrição dos mesmos por medida de segurança dos consumidores. Alguns exemplos dessas substâncias são: geraniol, linalool, limonene, citronellal, citronellol, citral, benzyl benzoate, entre muitas outras.
Lidar sabiamente com óleos essenciais requer um profundo conhecimento em química, já que é necessário analisar a estrutura molecular de cada um desses compostos, entender como ocorre a interação com o nosso corpo e quais são os riscos oferecidos. Cada vez mais vão surgindo novos estudos científicos sobre os efeitos benéficos dos óleos essenciais em nosso corpo, mas junto com isso, também estamos conhecendo melhor os perigos envolvidos em sua utilização. É necessário conhecer muito bem suas funções, combinações e concentrações de uso.

SINTÉTICOSUm frasco de laboratório com plantas dentro está suspenso por um suporte universal.

Nas fragrâncias sintéticas, esses mesmos compostos terpênicos e aromáticos também são encontrados, já que é possível produzi-los artificialmente, mantendo exatamente a mesma estrutura química e, portanto, não diferenciando em nada suas ações e efeitos daquelas encontradas nos compostos obtidos através de fontes naturais.

Esse processo de mimetismo dos compostos naturais das fragrâncias, realizado através de síntese química, pode ser bastante benéfico para o meio ambiente, uma vez que evita o uso exploratório dos recursos naturais, preservando a vegetação e sua fauna, pois essas substâncias são encontradas em concentrações extremamente baixas nas ervas, vegetais e flores, o que leva ser necessário a extração de toneladas de plantas para produzir apenas alguns poucos quilos de óleo essencial.

A vantagem das fragrâncias sintéticas é que todos os ingredientes de sua composição são conhecidos, já que foram cuidadosamente escolhidos por suas funções específicas, sendo, desse modo, mais fácil controlar seu grau de segurança. Fragrâncias hipoalergênicas, por exemplo, costumam ser mais seguras do que óleos essenciais. Além disso, a gama de compostos sintéticos permite uma variedade bem maior de cheiros, uma vez que também é muito comum acontecer de algumas substâncias naturais não serem passíveis de extração das plantas, mas serem possíveis de serem produzidas em laboratório, exatamente da mesma forma encontrada na natureza, e tudo isso através de processos limpos.

Há, porém, nas fragrâncias sintéticas a criação de novos compostos que não existem – até onde temos o conhecimento, atualmente – na natureza e na grande parte das vezes essas substâncias são produzidas a partir dos derivados do petróleo, tornando a cadeia produtiva muito pouco sustentável e causando prejuízos ao meio ambiente. Um grupo desses compostos é conhecido como ftalatos, sobre os quais vamos falar um pouco mais a seguir.

FTALATOS – OS VILÕES DAS FRAGRÂNCIAS SINTÉTICAS

Nós já falamos um pouco sobre os ftalatos em nosso artigo Clean Beauty, no qual falamos sobre os requisitos necessários para um produto cosmético ser considerado limpo, mas vamos nos aprofundar um pouco mais agora.

Ftalatos é um grupo de substâncias químicas sintéticas muito utilizado, especialmente, devido a sua capacidade de tornar materiais plásticos, como o PVC, mais flexíveis e duráveis, estando, portanto, presente em uma grande variedade de produtos, tais como, instrumentos médicos, embalagens plásticas, peças de automóveis, brinquedos de crianças, materiais escolares, produtos de utilidade doméstica, etc. Além disso, o ftalato também é empregado na área cosmética, em produtos como esmaltes e sprays de cabelo. Nas fragrâncias sintéticas, mais especificamente, possui a função de melhorar a fixação e durabilidade dos aromas na pele.

A classe dos ftalatos engloba diversas substâncias, mas nem todas oferecem riscos à saúde. Há, contudo, cerca de 3 tipos mais comumente utilizados na indústria cosmética, que são entendidos como tóxicos e potencialmente perigosos, são eles: Dibutyl Phthalate (DBP), diethyl phthalate (DEP) e dimethyl phthalate (DMP).

Esses ingredientes já possuem diversos estudos sugerindo efeitos prejudiciais ao nosso organismo, já que podem atuar como disruptores endócrinos, ou seja, essas substâncias possuem estruturas químicas similares às dos nossos hormônio naturais, podendo se ligar aos receptores desses hormônios e assim desregular o funcionamento orgânico normal de nosso corpo, podendo inclusive induzir ao surgimento de doenças graves como o câncer.

Não bastasse o risco que os ftalatos representam à nossa saúde, esses compostos também podem ser tóxicos ao meio ambiente, já que alguns deles são bioacumulativos, já tendo sido detectados em organismos aquáticos, o que, a longo prazo, pode causar efeitos adversos e desequilíbrios no ecossistema como um todo.

É importante ressaltar, porém, que apesar de todos esses indícios sobre a toxicidade dos ftalatos, o Cosmetic Ingredient Review (CIR) Expert Panel, reafirma que o DBP, DMP e o DEP são considerados seguros para uso cosmético, pois levam em consideração a baixa concentração empregada nesses produtos, diferente, em comparação, dos níveis capazes de causar reações adversas em animais, conforme estabelecido nos estudo com a substância isolada.

ENTÃO AS FRAGRÂNCIAS SINTÉTICAS SÃO SEMPRE PERIGOSAS?

Não. Atualmente bons fabricantes de fragrâncias já desenvolvem aromas sem a presença desse grupo de substâncias perigosas, tornando as fragrâncias sintéticas bem mais seguras para uso cosmético.

Contudo, mesmo sem a presença desses ingredientes, ainda assim, uma fragrância sintética, assim como as naturais e os óleos essenciais, podem causar irritações e reações alérgicas em indivíduos que já possuem essa predisposição.

Pessoas de pele muito sensível, com tendência a alergias e atopias, como dermatites e rosácea, sempre deverão ter mais cautela no uso de quaisquer cosméticos, especialmente, os que contenham fragrâncias, sejam elas naturais ou sintéticas. Em casos extremos, de peles muito reativas, o melhor a se fazer é optar por produtos livres de qualquer tipo de fragrância.

A REGULAMENTAÇÃO DE FRAGRÂNCIAS NO BRASIL

Aqui no Brasil os componentes das fragrâncias estão sujeitos à regulamentação da ANVISA em conjunto com a ABIFRA (Associação Brasileira das Industrias de Óleos Essenciais, Produtos Químicos Aromáticos, Fragrâncias e Afins), órgão independente que promove ações para o fortalecimento da indústria nacional, divulgando padrões internacionais de qualidade e segurança dos produtos junto ao seu mercado, consumidores e governo.

Por conhecer os possíveis riscos oferecidos pelos ingredientes presentes nas fragrâncias sintéticas e naturais, a ANVISA possui uma lista de substâncias restritivas para uso cosmético e obriga a descrição no rótulo dos componentes considerados alergênicos presentes nas fragrâncias e nos óleos essenciais, garantindo maior segurança de uso por parte dos consumidores aqui no Brasil.

O USO DE FRAGRÂNCIAS NO BRASIL

Você sabia que o Brasil é o segundo maior mercado consumidor de fragrâncias no mundo? Dados do instituto Euromonitor estima que nosso consumo tenha alcançado a incrível cifra de US$ 6,8 bilhões em 2016, perdendo apenas para os Estados Unidos, responsável pela performance de US$ 7,9 bilhões.

Refletindo sobre esse dado, nós podemos entender que fragrâncias são elementos fortemente ligados a aspectos culturais, e que, por isso, removê-las completamente do uso diário implica em mudanças profundas de hábitos que já são centenários ou até milenares, passados de geração em geração e que trazem memórias carregadas de carinho e afeto.

Com isso nos perguntamos:

É NECESSÁRIO ABOLIR O USO DE FRAGRÂNCIAS?

Essa resposta é algo bastante pessoal e vai depender do estilo de vida que cada um adota para si.

O que é importante: certificar-se de que aquela marca de cosméticos que você gosta não faz uso dos ingredientes que já estão sob suspeita de toxicidade, tirando isso, optar por uma fragrância natural ou óleos essenciais não traz menores riscos de alergias e irritações em relação à uma sintética.

Muitas vezes um cosmético sem fragrância ou com cheiro desagradável, natural dos próprios ingredientes presentes na formulação, pode inviabilizar o uso, fazendo com que percamos os incríveis benefícios que esses produtos podem trazer à saúde de nossa pele, cabelos e até às nossas emoções. Se você não possui restrições ao uso desses ingredientes aromáticos, não há necessidade de aboli-los, apenas certifique-se de que são seguros. Esteja atento à filosofia de suas marcas preferidas.

Mais uma vez relembramos, o importante é formular com inteligência e não radicalizarmos ou polarizamos, classificando todos os ingredientes sintéticos como tóxicos e os naturais como saudáveis, sem embasamentos científicos, porque essa não é a realidade.

Foi pensando nisso que desenvolvemos nossos produtos. Utilizamos o máximo de ingredientes naturais com sabedoria e muito estudo, e, para garantir a eficácia e segurança destes mesmos ingredientes, fazemos uso de pequeninas concentrações de matérias-primas sintéticas seguras e limpas, que além de todos esse benefícios, tornam nossas fórmulas ainda mais efetivas e prazerosas de usar.

Beleza Natural Inteligente é o nosso conceito.

REFERÊNCIAS:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24999593 - Sândalo sintetico

https://www.jidonline.org/article/S0022-202X(15)36538-6/fulltext

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6839564/ - Iso E

https://ifrafragrance.org/about-ifra/making-a-difference-in-every-sense

https://ifrafragrance.org/what-we-do/what-is-a-fragrance

http://www.abifra.org.br/wp/

http://www.abifra.org.br/base_iofi.pdf

https://ec.europa.eu/health/scientific_committees/consumer_safety/docs/sccs_o_073.pdf

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5198031/

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17889607

https://ec.europa.eu/environment/aarhus/pdf/35/Annex_11_report_from_Lowell_Center.pdf

https://www.fda.gov/cosmetics/cosmetic-ingredients/phthalates

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