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Clean Beauty: a nova beleza segura | Tudo o que você precisa saber!


Mais um novo conceito chega ao mercado brasileiro de beleza para confundir a cabeça dos consumidores, o Clean Beauty, que traduzido para o português significa ‘Beleza Limpa’.

Imagem: Shutterstock

Mas o que exatamente significa Beleza Limpa?

Nas últimas décadas de avanço científico intenso as pessoas buscaram exageradamente por produtos altamente eficazes, sem se preocupar muito se eram seguros ou não e qual seria o impacto que isso causaria em suas vidas em longo prazo. Com o aumento alarmante de doenças como o câncer, alergias e intolerâncias aos mais variados tipos de ingredientes, veio a necessária preocupação com a saúde.

Como o ajuste de uma daquelas antigas balanças de prato, na qual, para encontrar o ponto de equilíbrio, acabamos sobrecarregando um dos lados, temos observado esse mesmo fenômeno ocorrer com a forte tendência de naturalização em todas as áreas de vida - tais como, alimentação, beleza, decoração, combustíveis, etc – indo com a mesma intensidade na direção contrária do surgimento dos modernos químicos/sintéticos.

Uma pesquisa conduzida pela Mintel - uma das maiores empresas privadas de pesquisa de mercado sediada em Londres e com atuação em diversos países, incluindo o Brasil - comprova esse movimento, pois foi identificado que cerca de 54% dos brasileiros são potenciais compradores de produtos naturais e éticos. A Mintel aponta, ainda, que uma das principais tendências globais de consumo é a sustentabilidade e a preocupação com substâncias nocivas que possam causar impactos na saúde e no meio ambiente.

Mas no desespero dessa reaproximação com a natureza, será que a percepção de que tudo que é natural é mais seguro, melhor e mais limpo, está correta?

O movimento que está transformando a área da beleza

Fato: atualmente os consumidores estão mais preocupados com sua saúde e o meio ambiente e, portanto, querem saber mais sobre o que vai em seus produtos. As pessoas estão se habituando a ler os rótulos e a buscar mais informações sobre ingredientes.

Contudo, na pressa em querer se livrar de todos os tóxicos e em época de fake news e polarizações, pouca pesquisa aprofundada tem sido realizada para saber se tudo o que estamos acostumados a utilizar é realmente nocivo.

Se junta à essa situação a urgência de muitas empresas em se adaptar às novas exigências dos consumidores e, com isso, muitos mitos estão sendo difundidos com as novas filosofias de beleza que as marcas estão adotando.

O que é um cosmético limpo?

O conceito de Beleza Limpa independe e vai além das classificações ‘Naturais’, ‘Orgânicos’, Veganos e 'Sintéticos'. Em tese, um cosmético limpo é aquele livre de ingredientes comprovadamente tóxicos ou potencialmente nocivos, passíveis de causarem desequilíbrios orgânicos ou o desencadeamento de doenças, de acordo com estudos científicos apresentados em compêndios oficiais, literaturas técnicas, e veículos, como por exemplo, Journal of Toxicology, Journal of Applied Toxicology, Cosmetic Ingredient Review, etc.

Contudo, o que se observa no mercado é que esse conceito não está bem definido, já que não é oficialmente regulamentado por algum órgão legal (nacional ou internacionalmente), mas trata-se apenas de mais um diferencial de marketing passível de interpretação subjetiva por parte de cada empresa.

Por essa razão, o que está ocorrendo no mercado global de beleza é que cada marca possui uma lista própria de ingredientes e/ou materiais proibidos de acordo com sua filosofia principal, por exemplo: empresas que focam em sustentabilidade vão ter como objetivo fundamental reduzir o impacto ambiental e, portanto, vão priorizar a utilização de embalagens recicláveis ou recicladas, o que faz bastante sentido.

Por outro lado, a situação começa a ficar um pouco mais complicada e confusa quando se trata de ingredientes. Tome como exemplo empresas que se preocupam apenas com ingredientes naturais e orgânicos, essas não têm como foco principal evitar compostos que possam causar sensibilizações e irritações, como é o caso das fragrâncias e dos tão famosos óleos essenciais. Enquanto outras companhias que estiverem focadas em consumidores com problemas de pele, como sensibilidades e alergias, vão colocar esses mesmo ingredientes naturais em sua lista de substâncias proibidas.

Quais são os ingredientes proibidos?

Existem, no entanto, algumas substâncias que já possuem estudos indicando que podem ser prejudiciais, caso dos parabenos e sulfatos. Entretanto, ainda assim, dermatologistas afirmam não ser possível generalizar, já que tudo depende da condição de saúde da pele de cada indivíduo. Pessoas que possuem dermatite atópica, por exemplo, já apresentam naturalmente uma barreira cutânea comprometida, sendo portanto, mais vulneráveis à irritações causadas por detergentes sulfatados, como o tão famoso Lauril Sulfato de Sódio, ao passo que uma pessoa de pele saudável pode não apresentar problema algum.

No caso dos parabenos, diversos estudos relacionam essa substância a alguns tipos de câncer, além de serem considerados disruptores endócrinos, o que significa que podem ser capazes de desequilibrar nossas funções hormonais orgânicas.

Nos casos citados, o alerta deve ser mantido devido ao fato de esses ingredientes estarem presentes em quase tudo o que usamos em nosso dia-a-dia, como, shampoos, sabonetes, enxaguantes bucais, pasta de dentes, sabões para roupas, amaciantes, alimentos e produtos de limpeza, fazendo com que a nossa exposição à essas substâncias seja consideravelmente alta.

Além desses dois compostos, outras substâncias comprovadamente tóxicas também devem ser evitadas, tais como os liberadores de formaldeídos, já que o formol também é considerado uma substância cancerígena, alergênica e bastante irritante mesmo em baixas concentrações.

Outros ingredientes controversos

Como já dissemos anteriormente muitos ingredientes adequados para uma determinada marca e proposta, são considerados ruins e nocivos por outras com filosofia diferente, é tudo uma questão de ponto de vista e/ou preferência, mas não necessariamente de perigo real.

Estabilizantes/ Antioxidantes

Existem ingredientes classificados como nocivos por algumas marcas e consumidores, mas que possuem estudos comprovando justamente o contrário, que são seguros e esse é o caso dos EDTAs, sobre os quais já escrevemos um texto bem completo, clique aqui para ler.

Há casos também de outros ingredientes que não possuem estudos conclusivos sobre sua toxicidade, caso do BHT, sobre o qual existem pesquisas que sugerem ação nociva e outras totalmente opostas, indicando que devido a sua ação antioxidante, houve casos de melhoras em doenças como o câncer.

Fragrâncias Sintéticas, Naturais e Óleos Essenciais

Existem ingredientes que podem ser irritantes para algumas pessoas, mas são considerados limpos apenas pelo fato de serem naturais, caso dos óleos essenciais. No entanto, essas substâncias, apesar de entregarem benefícios incríveis comprovados cientificamente, inclusive terapêuticos, quando bem utilizados e profundamente estudados, também apresentam potencial sensibilizante e alergênico.

Lado a lado com os óleos essenciais vêm as fragrâncias, porém, com fama contrária, de nociva. Esse é um assunto muito extenso, que demandará um outro artigo em nosso blog, mas vamos expor alguns conceitos brevemente.

As fragrâncias sintéticas são muitas vezes oriundas de fontes naturais, porém transformadas quimicamente em laboratórios. A grande maioria desses compostos sintéticos possuem estruturas químicas idênticas às suas versões naturais, não sendo, portanto, estranhas ao nosso organismo, como muitos sites veiculam. Além disso, todas as fragrâncias sintéticas (como todas as matérias-primas dessa mesma natureza) passam por rigorosos processos de purificação e análises minuciosas para a remoção de possíveis impurezas, o que garante um produto muitas vezes mais seguro do que um óleo essencial ou extrato vegetal, que carregam toda uma gama imensa de compostos desconhecidos oriundos da planta em questão, pois não são substâncias isoladas, mas uma mistura complexa de compostos químicos vegetais.

Todas as fragrâncias, sejam elas sintéticas ou naturais, possuem algum potencial irritante para uma pequena parcela da população. Estudos realizados pelo American Journal of Clinical Dermatology, estimam que o percentual de pessoas no mundo que apresentam algum tipo de alergia a qualquer tipo de fragrâncias é de 2 a 4%, pessoas estas que já possuem algum histórico anterior de desordem cutânea genética, como eczemas, por exemplo.

Nesse caso, então, é possível compreender que fragrâncias não são ingredientes tóxicos e perigosos, passíveis de causar graves problemas de saúde para a população em geral ou ao meio ambiente. Além disso, não é verificado diferenças significativas de toxicidade entre as formas sintéticas ou naturais, a questão é mais sobre as preferências do consumidor e filosofia de cada marca.

Ftalatos

Uma questão um pouco mais preocupante sobre as fragrâncias sintéticas, no entanto, é a presença de um grupo de substâncias conhecido como ftalatos, os quais podem estar presentes nas composições das fragrâncias sintéticas.

Os ftalatos são um grupo de compostos químicos utilizado em uma grande variedade de produtos, tais como, óleos lubrificantes, detergentes, embalagens de alimentos, esmaltes, etc. No caso específico das fragrâncias, essa substância teria a função de "fixador", para aumentar a durabilidade do perfume na pele. Estudos sugerem que algumas formas de ftalatos podem atuar como disruptores endócrinos e estão associados a riscos de alergias e toxicidades, além de serem considerados nocivos para o meio ambiente.

Entretanto, o uso desse composto já foi bastante reduzido pelos fabricantes atualmente e hoje já é possível obter fragrâncias sintéticas absolutamente seguras e limpas, sem a presença desse ingrediente nocivo. Fique de olho na proposta de sua marca preferida.

Conservantes

Há ainda os casos dos conservantes naturais, que muitos também os julgam limpos e não tóxicos apenas por serem de origem natural, quando na verdade podem ser mais nocivos do que os sintéticos, caso das substâncias, álcool benzílico e benzoato de benzila, de origem natural, mas de potencial irritante mais elevado do que, por exemplo, o conservante sintético fenoxietanol.

Filtros Químicos

Nessa mira também entram os filtros solares químicos, também chamados de orgânicos, que como em qualquer classe de ingredientes, possuem os que são nocivos e os que não são, não sendo correta a generalização de todos como tóxicos. Os filtros "naturais", conhecidos como inorgânicos, disponíveis no mercado atualmente oferecem apenas proteção física, já que formam uma barreira pigmentar que bloqueia e reflete parte dos raios solares. Isso, contudo, traz alguns efeitos indesejados, como deixar a pele com aparência muito esbranquiçada e, em alguns casos, não oferecer proteção suficiente, especialmente contra os raios UVA, principais causadores do câncer de pele.

Dessa maneira, se torna indispensável que façamos uso dos filtros químicos seguros, os quais nos garantem proteção muito mais ampla, além de um aspecto e sensorial muito mais agradáveis. É preferível utilizar um sintético seguro a desenvolver uma doença grave como o câncer, já que é impossível nos livrarmos da exposição aos raios UV, que além do sol, também são emitidos por luzes artificiais e dispositivos eletrônicos como computadores, tablets e celulares.

Como é a regulamentação desses ingredientes no Brasil

Assim como ocorre na Europa a legislação cosmética no Brasil é rigorosa e possui uma extensa lista de substâncias proibidas, com 1376 ingredientes. Além disso, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) também exige testes de segurança com o intuito de garantir que aquele produto está apto ao uso seguro.

Diferente do que ocorre aqui no Brasil e na Europa, a legislação dos EUA é menos restritiva e possui uma lista muito menor de ingredientes proibidos, além de não exigir testes obrigatórios de segurança e conformidades. Por isso os consumidores naquele país se preocupam muito com se o que eles estão usando é de fato seguro, já que, no caso específico dos cosméticos, são amparados de forma insuficiente pelo órgão regulamentador americano, o FDA (Food and Drug Administration).

Conclusão

Com isso, podemos concluir que o real conceito de Clean Beauty não se limita a uma oposição entre ingredientes naturais e sintéticos. O movimento Beleza Limpa vai além dessa dualidade, já que ingredientes sintéticos não são necessariamente tóxicos, assim como os naturais não são sempre seguros.

Substâncias naturais podem ser extraídas de maneira predatória, sem respeito ao ritmo da natureza ou aos animais, além de ainda gerar resíduos contaminados durante seu processamento, devastando e prejudicando muito o meio ambiente. Enquanto isso, muitas substâncias sintéticas são capazes de poupar espécies vegetais raras, preservar a vegetação natural e serem produzidas através de processos limpos, que não poluem a natureza.

O que garante segurança e eficácia não é excluir completamente um ou outro, mas sim formular com inteligência, escolhendo o que realmente funciona e é seguro, tudo isso baseado em avaliações criteriosas de estudo científicos sérios.

A importância maior é a segurança da fórmula de um produto e não a análise de cada um dos ingredientes separadamente, caso contrário, muitos cosméticos orgânicos seguros, excelentes e adorados pelo público seriam taxados como nocivos, já que possuem óleos essenciais, e conservantes naturais potencialmente irritantes. Uma fórmula é uma mistura complexa e transformada de ingredientes e não deve ser classificada por seus ingredientes isolados. Tanto é assim, que os órgãos regulamentadores permitem o uso dessas substâncias e o que eles exigem, apenas, são testes de segurança sempre referentes aos produtos finais.

O conceito Clean Beauty exclui o que é comprovadamente tóxico e prejudicial à saúde, não o que está de acordo com a interpretação subjetiva da filosofia e/ou marketing de cada marca, o resto é apenas uma escolha por uma filosofia ou estilo de vida.

Desmistificar, equilibrar e estudar são os fundamentos daqueles que realmente querem fazer diferente e se importam em continuar evoluindo e levar o bem ao consumidor, aos animais e ao meio ambiente.

Nós somos a favor da Beleza Natural Inteligente!

 

REFERÊNCIAS:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26332456

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/14572300

http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2859796/RDC_83_2016_.pdf/940b7b9d-9806-429e-ae11-f8ea0a375bd3

https://ifrafragrance.org/docs/default-source/ifra-code-of-practice-and-standards/background-scientific-information-and-guidelines/ifra-rifm-qra-information-booklet-v7-1.pdf?sfvrsn=1426bcb8_0

https://ifrafragrance.org/self-regulation/ifra-code-of-practice

https://www.ewg.org/skindeep/

https://www.researchgate.net/publication/327498041_Safety_and_Toxicity_Assessment_of_Parabens_in_Pharmaceutical_and_Food_Products

Journal of Applied Toxicology, Julho 2019, ePublication

https://www.fda.gov/cosmetics/cosmetic-ingredients/phthalates

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